O Papel do Orientador Educacional nas Escolas
Públicas de Ceilândia-DF
Beatriz de Almeida Reis[1]
Angélica Crispim[2]
Resumo
O presente trabalho tem como escopo relatar
fidedignamente o papel do orientador educacional nas escolas públicas de Ceilândia-DF.
Para tanto, fez-se inicialmente uma pesquisa bibliográfica a cerca do tema
abordado, em seguida realizou-se uma entrevista através de questionário com
alguns orientadores educacionais das escolas públicas de Ceilândia com intento de conhecer o papel do orientador
educacional no âmbito escolar, tendo em vista, que este profissional tem sido
visto, tradicionalmente, e tem - se visto como um profissional, cujo papel
principal é atuar com os educandos.
Palavras-chave:
Papel. Orientador. Educacional. Escolas. Ceilândia.
Introdução
No contexto da educação brasileira
estudos e pesquisas tem dedicado pouca atenção no que concerne ao trabalho do
orientador educacional.Os problemas educacionais são complexos e demandam visão
global e abrangente, assim como ação articulada, dinâmica e participativa.
Neste contexto, recai sobre a escola
maior peso de responsabilidade sobre a educação que se deseja alcançar,
educação de qualidade, comprometida com a formação de sujeitos críticos e aptos
a intervir no meio social à qual estiverem inseridos. No interior da escola há
vários profissionais que sistematizam, que buscam de fato a excelência da
educação. Entre eles estão os orientadores educacionais.
Cabe salientar que os orientadores
educacionais devem ser o vínculo da união entre a escola e a comunidade local,
garantindo plena integração de interesses e objetivos. A qualidade da escola
passa, sem dúvida, pela qualidade de seus orientadores educacionais.
Nos dias atuais é preciso que o
orientador tenha um novo perfil, com
especial atenção às diversas demandas sociais que surgem, é essencial que
tenham, também, novos conhecimentos e habilidades para que possa dar conta
dessa educação que é responsabilidade de todos. O envolvimento de professores,
equipe técnico-pedagógico, funcionários, alunos, pais e comunidade, devem
formar um jeito diferente de compreender o papel da sua escola.
Grinspun
(2006)diz que a orientação, hoje, caracteriza-se por um trabalho muito mais
abrangente,no sentido de sua dimensão pedagógica.Possui caráter mediador junto
aos demais educadores, atuando com todos os protagonistas da escola no resgate
de uma ação mais efetiva e de uma educação de qualidade nas escolas.
Partindo do pressuposto da grande
importância da orientação educacional como condição de promoção da qualidade do
ensino, pelo enriquecimento que podem e devem prestar na construção de um
processo educacional amplo e pleno, sentiu-se a necessidade de reforçar o
trabalho integrado em equipe técnico – pedagógica da escola que se torna mais
necessária para o desenvolvimento da educação, cada vez mais vital para a
sociedade, ao mesmo tempo que cada vez mais complexa, tendo em vista a
realidade em que estas estão inseridas e as repercussões apresentadas em seu
interior.
Nesta
dimensão o trabalho cientifico aqui delineado apresenta como tema: O papel do
orientador educacional nas Escolas Públicas de Ceilândia-DF. Partindo do
seguinte problema: Qual o papel do orientador educacional e como este
profissional deve atuar no ambiente escolar, a fim de desenvolver um trabalho
satisfatório, e, consequentemente, contribuir com uma educação de qualidade
para o ensino público? O trabalho tem como objetivo fazer uma abordagem
analítica sobre a o papel do orientador educacional nas escolas públicas de
Ceilândia-DF.
Este
trabalho está estruturado em primeiro momento na revisão de literatura sobre o
papel do orientador educacional nas escolas públicas de Ceilândia-DF. No
segundo momento analisa os resultados da pesquisa realizada com orientadores
educacionais que estão atuando no interior das escolas da Rede Pública de
Ceilândia-DF.
A
trajetória da orientação educacional no Brasil
A
Orientação Educacional tem sua história de desenvolvimento ligada à da
Psicologia, que data do século XVI e procurava através de psicotécnicas traçar
aptidões correlacionadas a atividades específicas (Grinspun, 1992). Seu
desenvolvimento como função específica dentro do contexto escolar se dá no
rastro dos avanços da Psicologia; no entanto, é preciso considerar que a noção
sempre se fez presente na Educação, tendo em vista que a educação em si se
propõe à orientação do ser. Até a década de 1920, a Orientação Educacional no
Brasil constituía-se de atividades esparsas e isoladas, em que se fazia
presente o cunho de aconselhamento, ligado a uma moral religiosa. A partir da
década de 1920, com o desenvolvimento urbano-industrial, houve a necessidade de
formação para essa nova realidade de trabalho. O ensino profissional foi sendo
implementado e, com ele, a Orientação Educacional, serviço que poderia adotar
uma linha de aconselhamento vocacional.
O Serviço
de Orientação é tornado oficial pelo professor Lourenço Filho, diretor do
Departamento de Educação de São Paulo, Brasil, surgindo assim o primeiro
Serviço de Orientação Educacional e Profissional. No entanto, esta experiência
teve uma duração curta, sendo extinto o serviço em 1935.
O orientador educacional surge em um momento
de muita agitação e insatisfação, por parte do povo com relação ao sistema
econômico. Naquela época a escolaridade era vista, por uma crença ingênua, com
meio de mobilidade social.O Orientador educacional seria aquele que iria
reforçar a ideologia das aptidões naturais,ou seja cada um em seu lugar com seu
esforço e suas capacidades e suas responsabilidades.(MAIA e GARCIA.1995.P.13)
As leis orgânicas de 1942
a 1946 são marcos no desenvolvimento da Orientação Educacional: a preocupação
com a qualificação profissional se atrelava à redefinição político-econômica em
curso, comprometendo os diferentes setores da economia com a formação do seu
trabalhador, o que desembocou na criação do Senai e do Senac. Nesse contexto, a
Orientação Educacional ganhou visibilidade e foi legalmente instituída,
tornando-se obrigatória no ensino secundário, primando aí pela orientação
vocacional.
No período pós-1964,
durante a ditadura militar, o curso de Pedagogia sofreu reformulações para
adequar-se aos princípios vigentes na época. Alterou-se a formação do técnico
generalista e foram criadas as habilitações. Após um núcleo comum de matérias
relacionadas aos fundamentos da Educação, haveria a opção por uma das
habilitações possíveis ao pedagogo, aprofundando os conhecimentos numa
determinada área: Supervisão, Orientação, Administração, disciplinas das
matérias pedagógicas foram as habilitações criadas nessa reformulação.
Essa divisão, fruto de uma
divisão técnica do trabalho escolar, contribuiu para que a Orientação
Educacional entrasse num movimento de profissionalização; a criação das
associações de supervisores e orientadores data da década de 1970. Inseridos
numa concepção tecnicista da Educação, caberia a eles o controle sobre o processo
que se desenvolve na escola, de forma a assegurar sua eficiência; enredavam-se
cada vez mais em atividades de cunho burocrático.
Na década de 1980/90,
vivia-se uma efervescência em torno da atuação/formação docente. O ponto
central do embate estava na defesa da docência como base da formação. Como esta
era a fundamentação da base comum nacional proposta para o curso de Pedagogia,
a polêmica girava em torno da identidade do curso, dos sujeitos formados neles
e dos saberes dessa formação. Ao defender a docência como base da formação, o
movimento de educadores opôs-se frontalmente às habilitações. A Anfope
(Associação Nacional de Profissionais da Educação) se organizou, com base na
defesa da ampliação do papel do docente, assumindo este a direção do processo
educativo como um todo. Isso se deu também com a adesão do movimento de
supervisores e orientadores educacionais, antes organizados em entidades
próprias. Não sem embates, mas por vontade da grande maioria das forças
regionais, as associações de supervisores e orientadores educacionais se
extinguiram; seus membros passaram a fazer parte da Anfope como profissionais
da Educação, reiterando a defesa dos postulados desta.
A partir de então, as
funções de supervisor e orientador ficaram descaracterizadas. A problematização
em torno da questão é grande. Libâneo discutiu as ideias defendidas pela
Anfope, que centralizavam na docência a identidade do curso de Pedagogia e do
pedagogo. Refutava essa posição, diferenciando o docente do pedagogo strictu sensu, como ele chamava o
profissional a ser formado, distinguindo-o a partir da explicitação das
diferenças entre o trabalho pedagógico e o trabalho docente. Sustentava seus
argumentos na demonstração que fez da necessidade da atuação de profissionais
da educação em funções não diretamente docentes. Defendia então que, por
questões conceituais, a Pedagogia poderia abranger a docência, mas não se
reduzir a tal aspecto.
Libâneo e Pimenta (1999);
refutam a ideia da docência como fundamento de identidade do curso de formação
dos profissionais da Educação. Argumentam que essa defesa incita uma
descaracterização do curso e dos saberes pedagógicos, reduzindo-os à docência,
numa compreensão do pedagógico em geral como metodológico.
Contudo, as atuais
Diretrizes Nacionais para Pedagogia (2006) a definem como curso de licenciatura
plena, superando a fragmentação da visão de especialista x docente e
a problemática das habilitações, reforçada também pela definição de que as
atividades docentes incluem a participação em ações de planejamento e gestão em
espaços escolares e não-escolares. Assim, vê-se – em consonância com as
propostas defendidas pela Anfope – que a formação deve abranger a complexidade
do fazer pedagógico, ampliando a concepção de docência, sendo necessário que
esta se sustente sobre uma sólida formação.
Diante desse horizonte
histórico de desenvolvimento das funções do orientador, encontramo-nos hoje num
momento de busca por uma reconceitualização do que vem a ser orientador. A
busca por uma ressignificação desses papéis no contexto escolar e na formação
docente revela a importância dessas funções no cotidiano escolar. Isso é
percebido no Projeto de Lei 838/07, do deputado Marcos Montes (DEM-MG), em
tramitação na Câmara, que obriga as instituições de pré-escola, ensino
fundamental e ensino médio com 300 ou mais alunos a manter um profissional da
educação de nível superior habilitado em Orientação Educacional. Escolas
menores poderão dividir o tempo do mesmo profissional.
Para tanto, é preciso ter
em vista que esse movimento é recente; ainda hoje, a visão do que vem a ser
orientação está atrelada aos significados construídos historicamente: o de um
profissional que atua sobre um
outro. Essa visão, ainda tão presente no cotidiano escolar, indica caminhos de
uma hierarquização do trabalho no cotidiano escolar a partir da condição de ser
possuidor ou não de alguns conhecimentos. Nesse modelo, o orientador, ao se
debruçar sobre esse cotidiano em desenvolvimento, analisa-o e o altera, como se
só ele fosse capaz de enxergar as dificuldades encontradas e de propor
alternativas a elas.
Se é importante a defesa
de profissionais da educação que desenvolvam trabalho pedagógico não docente
nas escolas, é preciso ter claro também que o que se espera deles é um trabalho
de ação compartilhada, para além do aconselhamento ou orientação profissional.
Sem pretender esvaziar o trabalho da Orientação Educacional, o que se faz
premente é repensá-lo sob novas bases, no desafio da constante construção
dialógica, considerando que esse outro – professor-aluno (sujeito, com
história, construtor de conhecimentos) – é um ser com experiência e saberes que
constrói a partir da sua história. Pensar outro modo de olhar esse outro é ele
estabelecer um verdadeiro diálogo na emergência de pensar novas formas de
atuação, em que a educação não seja democrática apenas naquilo que ambiciona
desenvolver com os alunos, mas seja gerada num fazer-se também democrático.
ÉTICA PROFISSIONAL (Princípios
Éticos na atuação do Orientador Educacional)
Trabalho de um orientador
educacional reveste-se de grande importância, complexidade e responsabilidade
e, para que seja realizado a contento, exige-se muito desse profissional, não
só em termos de formação, de atualização constante e de características de
personalidade como também de comportamento ético.
Embora não haja um código
de ética elaborado especificamente para o Orientador Educacional, como todo
profissional, ele deve ter sua atuação pautada por princípios éticos. O
comportamento ético em relação às informações sobre alunos, funcionários, e
pessoas da comunidade, é um dos principais aspectos a serem considerados.
Como a interação do
Orientador Educacional com os orientados se caracteriza pelo seu caráter de
relação de ajuda, tanto o aluno pode expor, espontaneamente, fatos ou situações
de cunho pessoal ou familiar, como o Orientador pode necessitar fazer
indagações sobre a problemática em questão. Esses dados, por serem de fato
sigiloso ou confidencial, não devem ser alvo de comentários com outras pessoas,
quaisquer que sejam as circunstâncias. Esse cuidado é de vital importância
porque a condição básica para o estabelecimento de uma relação de ajuda
eficiente é a confiança.
O sigilo das informações
constantes dos prontuários dos alunos deve ser igualmente preservado. Assim,
questionários preenchidos com dados mais íntimos sobre o aluno e seus
familiares; resultados de entrevistas e de testes e opiniões de professores
sobre determinado aluno devem ser mantidos fora do alcance de pessoas que,
propositada ou eqüidistante, neutro e procurar acirrar os ânimos, mas, sempre
que possível, acalmar as partes, buscando o entendimento entre elas, negociando
soluções que, ao contentar à todos, restabeleçam o necessário equilíbrio.
O mesmo comportamento
ético deve ser observado quando alguns motivos, como busca de status, de poder
ou de prestígio,acabem de manifestando e envolvendo os profissionais em
dispostos ou tramas pessoais. Nessas ocasiões, informações verdadeiras ou não
podem ser usadas indevidamente para prestigiar ou prejudicar uns e promover ou
favorecer outros.
É importante, ainda,
ressaltar, além do comportamento profissional, alguns aspectos éticos de sua
conduta pessoal, pois, devido a multiplicidade de interações que estabelece com
as pessoas, que queira, quer não, ela acaba por tornar uma figura muito
exposta, conhecida e visada, na escola e na comunidade. Ressalte-se, também
que, ao interagir com pessoas de diferentes faixas etárias, status e nível
sócio-econômico-cultural, seu comportamento estará sendo observado, podendo até
vir a servir de modelo para alguns, o que vem aumentar uma conduta ética
irrepreensível. Portanto, o Orientador Educacional, deve Ter descrição em sua
vida pessoal, em público, mesmo quando fora do local ou horário de trabalho, a
fim de que sua imagem seja sempre preservada de comentários desabonadores ou
comprometedores. Na instituição escolar, como um todo, dado a natureza do
processo educativo, é importante que sejam observados princípios éticos e, em
particular na área de Orientação Educacional, é imprescindível que tais
preceitos sejam rigorosamente seguidos.
Os grupos sobrevivem
quando estabelecem trocas com a coletividade num intercâmbio que leva ao mútuo
enriquecimento. Assim o grupo constitui e consolida um código que lhe assegure
a unidade. Todos os profissionais vivem esta dinâmica. Os direitos, os deveres,
os privilégios os congregam, emprestam rigidez aos laços de união, reforçam os
caracteres comuns. Pela formação de uma consciência profissional, pontos falhos
poderão ser sanados e pouco a pouco teremos uma classe mais respeitada,
conceituada e consolidada.
O papel do orientador educacional
A orientação educacional,
assim como a supervisão escolar, tem recebido enfoques variados.
Tradicionalmente, o orientador educacional tem sido visto e tem - se visto como
um profissional, cujo papel principal é atuar com os educandos. Assim é que a
orientação é definida como um método pelo qual o orientador educacional ajuda o
aluno, na escola a tomar consciência de seus valores e dificuldades,
concretizando principalmente através do estudo, sua realização em todas as suas
estruturas e em todos os planos de vida. Em vista disso, o mesmo faz
levantamentos de dados (sondagem de aptidões), realiza sessões de orientação e
de aconselhamento e desempenha uma série de funções de maior ou menor
importância, relacionadas com a concepção do atendimento ao educando.
Dentre todas essas
atuações o aconselhamento tem sido considerado como a principal e mais
importante. No entanto, a fundamentação, habilidade e eficácia de tal papel na
escola têm sido largamente questionadas recentemente, face a dificuldade de o
orientador educacional demonstrar, objetivamente, que, dedicando grande parte
do seu tempo e contribui da melhor maneira possível para o atendimento da
problemática do educando. Vejamos:
Os modelos e técnicas de
aconselhamento utilizado em orientação educacional desenvolveram-se
originalmente no âmbito da psicoterapia, e implicitamente assumem a noção de
que o indivíduo e não o ambiente em que faz parte é que deve modificar-se, pois
é ele, indivíduo, e não o ambiente que está perturbado, doente ou com
problemas. De fato, observa-se facilmente a transposição de tal concepção em
posições assumidas pelo orientador educacional na escola, posições estas que
correspondem a expectativas de pessoas que participam do processo educativo.
Por exemplo, o aconselhamento é mais comumente utilizado em casos relacionados
com indisciplina (Lück, 1979) e a prática freqüente é do aluno ser encaminhado
à orientação educacional com a expectativa implícita de que o mesmo seja
modificado, corrigido. A suposição implícita é de que o aluno está a causa do
problema. Tal procedimento não reconhece que, muitas vezes, comportamento
inadequado do educando são causados, dentre outros, por disfunções ambientais
como, por exemplo, currículos e programas inadequados às suas necessidades e
condições individuais, regulamentos inflexíveis, ou insensibilidade de
professores e adultos em geral à individualidade do educando.
Além da parcialidade com
que vê a situação do aluno, tal posição assumida incorre em erro por chocar-se
com os princípios do próprio aconselhamento quanto a aceitação e compreensão do
educando.
Os modelos e técnicas de
aconselhamento desenvolveram-se principalmente mediante sua aplicação com
clientes adultos e voluntários. A viabilidade de sua aplicação com outro tipo
de população na escola, a criança e o
adolescente geralmente não voluntários, necessita ser evidenciada
empiricamente.
Quanto
a argumentação lógica, questionam-se:
Que o relacionamento
naturalmente desigual entre orientador educacional e aluno (adulto-criança,
adolescente) deixe de influir no educando como tal, mormente em nossa cultura
em que o adulto é naturalmente visto como autoridade pela criança,
independentemente da posição que ocupe em relação a ela (Sheibe e
Spaccaquerque,1976);
O aconselhamento
individual e mesmo em grupo, como forma principal de atuação em orientação
educacional, obriga a uma proporção relativamente pequena de alunos por
orientador educacional. Idealmente esta proporção é de 450 alunos por
orientador educacional nas escolas de ensino de 1º grau. Tal proporção, já
considerada impraticável em países desenvolvidos como norma sistêmica, mais
ainda é o entre nós, ainda mais considerando-se a crescente necessidade de
expansão das redes públicas do ensino.
Numa escola com números
elevados de alunos em proporção a orientadores educacionais, em que se
adotem as funções de aconselhamento como forma principal de atuação , ocorre
certamente o atendimento de uns poucos alunos, ficando a maioria deles sem
receber os benefícios da orientação educacional. Mais ainda, pressionados pelo
tempo limitado, dada a sobrecarga de alunos, tentará o orientador
educacional a abreviar a duração e o número das sessões de aconselhamento
com cada aluno e, inadvertidamente, o orientador poderá forçar um ajustamento
prematuro e artificial.
Para Luck, 1978, O
atendimento individual ao educando, que vem caracterizando a orientação
educacional, fundamenta-se no pressuposto de que os educando tem necessidades
especiais e que os professores não estão preparados ou não tem condições para
atendê-las. Segundo esse enfoque o orientador educacional presta serviços na
medida em que emergem as necessidades.
Tal
concepção de prestação de serviços e atendimento direto ao educando, de acordo
com a emergência de necessidades psicoemocionais, parece Ter gerado uma mudança
na abrangência e sentido do papel do professor em relação ao aluno. Observa-se,
por exemplo, que, quando o professor percebe que algum aluno seu tem
dificuldades especiais, encaminha-o para o orientador educacional a quem transfere
a responsabilidade de resolvê-las. Ora, o professor é figura central na
formação do educando. É ele quem forma o aluno o gosto ou desgosto da escola; a
motivação ou não pelos estudos; o entendimento da significância ou
insignificância das áreas e objetivos de estudo; a percepção de sua capacidade
de aprender, de seu valor como pessoa, etc. Da qualidade do relacionamento
interpessoal professor-aluno, de responsabilidade do primeiro, depende, dentre
outras coisas, o ajustamento emocional do aluno em sala de aula e na escola.
Portanto, não se concebe a eficácia de uma ação para sanas dificuldades dos
alunos em sala de aula sem a participação do professor.
Em vista
dos problemas expostos, preconiza-se que o orientador educacional assuma
funções de assistência ao professor, aos pais, às pessoas da escola com as
quais os educandos mantêm contatos significativos, no sentido de estes se
tornem mais preparados para entender e atender às necessidades dos educandos,
tanto com relação aos aspectos cognitivos e psicomotores, como aos afetivos.
Metodologia
A cidade administrativa de Ceilândia-DF possui o maior contingente
populacional do estado, bem como um alto índice de pobreza e violência. Para
realização deste trabalho buscou-se abordar dados que possam contribuir com a
problemática aqui apresentada, tendo em vista que uma pesquisa precisa promover
o confronto entre os dados, informações coletadas e o conhecimento teórico.
Para tanto, vale ressaltar que este trabalho iniciou-se com a necessidade de
fazer uma abordagem concernente a orientação educacional nas escolas públicas
de Ceilândia-DF.
Utilizando-se
de uma pesquisa quanti-qualitativa
elaborou-se o marco teórico, inicialmente identificando-se e compilando
as fontes mais relevantes; depois fez-se fichamento, finalmente análise,
interpretação e elaboração textual, confrontando-se posições e extraindo as
conclusões. A pesquisa constituiu-se num momento de grande importância, pois
foi através desta que se buscou um embasamento teórico sobre a temática: o
papel do orientador educacional, utilizando o método de análise e síntese.
Nesta fase foram lidas obras diversas e de renomados autores, tais como :
Grinspun, Libanêo, Pimenta, Maia, Paulo Freire, dentre outros e simultaneamente
foram feitos resumos para a realização de produções posteriores.
Na
construção deste trabalho cientifico utilizou-se principalmente a pesquisa de
campo, onde realizou-se uma entrevista acompanhada de
questionários para ouvir alguns dos orientadores educacionais inseridos
nas escolas públicas da cidade administrativa de Ceilândia-DF. O
desenvolvimento da proposta pedagógica parte de uma análise da situação
atual acerca da orientação educacional
através da qual procurou-se detectar a concepção dos atores (orientadores
educacionais) das escolas públicas de
Ceilândia.
A
pesquisa de campo foi aplicada em quatro
escolas, com o intuito de conhecer o papel destes profissionais no
interior das escolas. Para tanto, foram questionados quatro orientadores
educacionais configurando – se em uma etapa indispensável ao trabalho
cientifico, por meio do qual coletaram – se dados que vieram a colaborar com a
pesquisa aqui apresentada.
O roteiro
foi composto de algumas perguntas abertas, que visavam investigar qual o papel
do orientador no espaço escolar.
Resultados
e discussão
O
primeiro questionamento realizado foi se existe algum documento na escola em
que atua que pontue a função do orientador educacional. Todos os orientadores
questionados afirmaram que não têm conhecimento da existência de nenhum
documento que trata das funções desse profissional, porém eles sabem que
assessorar os professores, aconselhar alunos em cooperação com professores e família,
encaminhar os alunos a especialistas quando se fizer necessário,e etc... é um
trabalho do orientador educacional.
Grinspun
2006 diz, que temos que definir as ações a serem desenvolvidas na Escola por um
orientador competente e comprometido com as transformações sociais e com a
história de seu tempo.
Para
Grinspun 2006, Hoje, a importância da
orientação se dá pelo viés de termos na escola um profissional de educação, um
especialista capaz de ajudar o aluno na sua formação ao máximo possível, que
não se esgota apenas no racional, mas que engloba o sensível e o
emocional.Diante disso questionou-se os entrevistados a respeito do seu
relacionamento com os alunos? A maioria respondeu que tem um bom relacionamento
com os alunos e que estão sempre a disposição dos mesmos, que as portas de suas
salas estão sempre abertas e que os alunos confiam bastante e até desabafam
sobre assuntos pessoais, familiares, entre outros.Já os outros orientadores
afirmaram que até têm uma relação boa com os alunos mas, mantém-se distante
para que os eles não confundam os papéis.
Ao presenciar o
cotidiano da Orientação Educacional de uma escola, pode-se constatar a
importância de um profissional da área para o bom funcionamento da escola,
assim como um melhor aprendizado de seus alunos. A importância de se ter esse
profissional atuando na escola nos remete a pensar que aqueles que não
acreditam em seu trabalho não entendem o que significa cotidiano escolar e
cultura organizacional.
Quais são suas funções para com os
professores?
O.E. –
Bimestralmente eles me entregam um plano ou proposta de trabalho que
contém todas as atividades que serão
desenvolvidas no período. Esse plano relata os objetivos, conteúdos,
metodologias, materiais, atividades curriculares e extra-curriculares.Os
analiso e agendo um dia e horário para dar um feed back para o professor
referente ao plano proposto por ele.Temos também a semana pedagógica que é
realizada no inicio do ano letivo na qual desenvolvemos um trabalho de
orientação e acompanhamento das atividades a serem realizados durante o ano
letivo.
O
trabalho do orientador encontra-se numa condição de atuação diferente do
professor em sala de aula, mas essa diferença não implica desigualdade de
condições de pensar o trabalho em que ambos estão envolvidos e para o qual
convergem suas ações. Assim, é preciso assumir que a tarefa de orientador se
insere num projeto coletivo, em que os trabalhos, sem perda da especificidade
das funções e serviços, articulem-se em vista da mesma finalidade e dos mesmos
objetivos educacionais.
E para com os
alunos?
O.E.
– Uns falaram que procuram conversar primeiro com os educadores e a partir das
informações dadas por eles organizam uma agenda para que assim possa atender os
alunos com dificuldades ou baixo rendimento escolar.E quando há necessidade,
encaminham o aluno para o reforço,e lá o acompanham ou para um especialista
quando o aluno apresenta distúrbio de aprendizagem. Outros disseram que além de
acompanhar os alunos, professores e família também arquivam todos os documentos
de todos os alunos da escola, e, a partir daí, prepara uma lista com o nome dos
alunos que tiraram nota abaixo da média nas provas.Elaboram projetos
interdisciplinares junto a equipe gestora, feira de ciência, entre outros.
Encarar o cotidiano
como processo em que os conhecimentos, avanços e retrocessos são tecidos no
interior dos múltiplos saberes e experiências que o permeiam é condição sine-qua-non
para que a Orientação Educacional se constitua a partir de uma posição
solidária de coordenação em que ninguém é proprietário de um
conhecimento, mas sim responsável por um dos fios necessários à tessitura de
unir o tapete de saberes e fazeres que só existirá com a troca/trançado de
todos os fios necessários. (Alves & Garcia, 1999, p. 141).
Você se relaciona
diretamente com os pais dos alunos? Como e quando isso acontece?
O.E.
– Sim, quando isso se faz necessário. Eles procuram a escola ou entro em
contato com eles por telefone e os convido a com parecer na escola para
conversarmos e para que juntos Escola e Família possamos desenvolver um
trabalho que venha a ajudar o aluno no seu desempenho escolar.Muitos pais e/ou
responsáveis chegam à escola com dúvidas, medos e até receios.Sempre começo o
diálogo falando dos aspectos positivos do aluno para não assustar ou afastar os
pais da escola.Servimos um chá, um suco ou cafezinho durante a conversa para
que esse pai essa mãe sinta-se a vontade e confie no nosso trabalho, afinal o
nosso desejo maior também é ajudar. Isso
é bom porque eles a medida que eles, pais,
conversam com o orientador – pessoa responsável na escola pelo aluno – eles
sentem que não estão sozinhos e então, passam a freqüentar mais vezes a Escola
do seu filho, a tirar suas dúvidas em relação ao rendimento, comportamento,
entre outros fatores, o que contribui significativamente tanto para o aluno
quanto para a escola.
Considerações Finais
Hoje o Orientador Educacional, no discurso de GRINSPUN (2002), não atua
mais por ser uma profissão que deva existir pela “obrigação”, pois na Lei
9394/96 não há a obrigatoriedade da Orientação, “mas por efetiva consciência profissional, o orientador tem espaço
próprio junto aos demais protagonistas
da escola para um trabalho pedagógico
integrado, compreendendo criticamente as relações que se estabelecem no processo educacional.” (GRINSPUN,
2002, p.28).
A
autora relata a importância da interdisciplinaridade dentro da escola, em que o
trabalho de todos é realizado em conjunto, conectado, no qual todos buscam os
melhores processos e resultados (ibid, 2002). A Orientação tem que servir para
esse novo tempo, no qual a educação lida com o real e suas perspectivas.
O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma
cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto
pedagógico. Isso significa ajudar nosso aluno ‘por inteiro’ (grifo da autora): com utopias, desejos e paixões. (...)a Orientação trabalha na escola
em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação (grifo
da autora) para atender aos excluídos
(...), mas para entendê-lo, através das relações que ocorrem (...) na instituição
Escola. (GRINSPUN, 2002, p. 29).
Portanto,
o centro de atenção máxima da escola deve ser o aluno. A escola existe em
função dele, e, portanto, para ele. A sua organização em quaisquer dos seus
aspectos, deve ter em vista a consideração do fim precípuo a que a escola se
destina: a criação de condições e de situações favoráveis ao bem estar
emocional do educando e o seu desenvolvimento em todos os sentidos: cognitivo,
psicomotor e afetivo, a fim de que o mesmo adquira habilidades, conhecimentos e
atitudes que lhe permitam fazer face às necessidades vitais e existenciais.
Na
promoção destas condições e situações um dos fatores mais decisivos é o
Orientador. Suas atitudes, práticas, desempenhos promovem um impacto
significativo no educando, pois elas influem na imagem que os educandos formam
da escola, no processo educativo em geral, na imagem de si mesmos, e , é claro,
em aspectos particulares de sua aprendizagem. Portanto, toda atenção deve ser
dada ao desenvolvimento de atitudes, habilidades e conhecimento do Orientador
para que possa promover um processo educativo relevante.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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uma vez) a complexidade do mundo. In: ALVES, Nilda (Org.). O sentido
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Educacional: Conflitos de paradigmas e
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LIBÂNEO,
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