Rubem Alves, em seu livro: O POETA, O
GUERREIRO, O PROFETA
(Ed. Vozes,1995. P. 10 ) diz:
(Ed. Vozes,1995. P. 10 ) diz:
“Uma aranha fez sua teia num
canto do meu escritório. Eu a descobri ontem e, com a minha vassoura, tratei de
me livrar dela. Teias de aranha são sinais de descaso e eu não queria que
aqueles que me visitam pensassem mal de mim. Mas hoje ela está no mesmo lugar.
Durante a noite refez sua teia. Acho que ela gostou do lugar, me perdoou e
confia na minha compreensão. Compreende. E decidi que ela vai ser minha
companheira.
Embora ela não saiba falar, ela me
fez pensar. Confesso que a aranha me fascinou. Primeiro por aquilo que vejo. Lá
está ela, segura e feliz, pendurada sobre o vazio. Não existe hesitação alguma
nos seu passos. Suas longas pernas se movem sobre os finos fios de sua teia com
tranquila precisão, como se fossem dedos de um violinista, dançando sobre as
cordas. Sua teia é coisa frágil, feita com fios quase invisíveis. E, no
entanto, é perfeita, simétrica, bela, perfeitamente adequada ao seu propósito.
Mas o fascínio tem a ver com aquilo que não vejo e só posso imaginar.
Imagino aquela criaturinha quase invisível
suas patas coladas à parede. Ela vê as outras paredes, tão distantes, e mede os
espaços vazios. E só pode contar com uma coisa para o trabalho incrível que
está para ser iniciado: um fio, ainda escondido dentro de seu corpo. E, então
repentinamente, um salto sobre o abismo, e um universo começa a ser criado...
Em outros tempos acho que fui um bom
professor. Como a aranha eu sabia tecer a minha teia de palavras. Eu sabia o
que ensinava e só ensinava o que sabia... Bons professores, como a aranha,
sabem que lições, estas teias de palavras, não podem ser tecidas no vazio. Elas
precisam de fundamentos. Os fios, por finos e leves que sejam, têm de estar
amarrados a coisas sólidas: árvores, paredes, caibros. Se as amarras são
cortadas a teia é soprada pelo vento, e a aranha perde a casa...”Professores
sabem que isto vale também para a educação...