TDAH: Saiba identificar se seu filho sofre dessa doença
Inquietação, questionamento excessivo, dificuldade na escola e falta de paciência podem indicar que a criança está sofrendo
Inquietação, questionamento excessivo,
dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar disperso
quando o professor explica a matéria. Pouca paciência para estudar, capacidade
de fazer várias coisas ao mesmo tempo e dificuldade de terminá-las. São
características comuns, mas que podem esconder uma criança infeliz, com
problemas para lidar com as próprias tarefas e dona de um diagnóstico cada vez
mais comum: o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade).
Ao lado da conhecida
dislexia (dificuldade na leitura e escrita), o TDAH é um dos principais
transtornos ligados à aprendizagem. Presente em cerca de 5% da população, a
doença é baseada em três itens principais: desatenção, hiperatividade e
impulsividade, e costuma ser mais evidente em meninos do que meninas, alerta a
psicóloga Cleide Partel:
— Os meninos enquanto
crianças são mais percebidos, já que as meninas são as mais quietinhas e podem
passar despercebidas pelos professores. Na idade adulta, no entanto, a proporção
é de um homem diagnosticado para cada mulher.
A dificuldade, conta a
especialista, surge de atividades demandadas pela escola. Quando a criança está
lendo um livro, por exemplo, consegue chegar ao final da página, mas não lembra
o que leu e sempre tem de voltar ao início. Além disso, como não suporta
tédio ou tarefas burocráticas e sem criatividade, quem sofre de TDAH foca a
atenção somente quando gosta do assunto ou quando é desafiado. Assim, para as
matérias que não tem tanto interesse terá de fazer um esforço muito maior do
que os outros.
Além dos problemas na
vida escolar, a vida profissional também pode acabar prejudicada, explica
Cleide:
— É muito comum que
seja uma pessoa extremamente impaciente e queira fazer tudo do jeito dela, no
tempo dela. Então, costumam não esperar sua vez e querem impor aos outros suas
próprias regras. Além disso, mal conseguem esperar o interlocutor terminar de
falar e costumam agir por impulsividade, comendo e bebendo muito.
Para a pediatra Maria
Aparecida Moyses, que coordena o Laboratório de Estudos sobre Aprendizagem,
Desenvolvimento e Direitos do Centro de Investigações em Pediatria da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), mais do que um diagnóstico, essas
características mostram que a criança vem enfrentando sérios problemas:
— São manifestações de
que algo não vai bem com essa criança e que podem esconder um problema real que
não está sendo diagnosticado, como a dislexia.
TDAH X dislexia
O transtorno, no
entanto, não deve ser confundido com a dislexia. Enquanto o TDAH se refere ao
comportamento e tarefas executivas, a dislexia tem relação com a capacidade de
leitura e escrita que interfere diretamente na aprendizagem. Normalmente,
quem sofre com a doença, troca ou omite letras e números com frequência. Assim,
explica o pediatra Dr. Saul Cypel, membro do Departamento Científico de
Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da SBP (Sociedade Brasileira de
Pediatria), a doença costuma ser diagnosticada quando a criança começa a aprender
a ler e escrever:
— A dislexia é um
processo de dificuldade severa do aprendizado da leitura, que só pode ser
verificada com pelo menos dois anos de alfabetização.
Pais que se veem diante
de um filho diagnosticado com dislexia ou TDAH e que está tendo dificuldades para
acompanhar o ritmo dos colegas podem se ver às voltas com a seguinte dúvida: é
preciso uma escola especial para meu filho? Especialistas, no entanto, são
categóricos ao dizer que a resposta é “não”. Eles ressaltam que a maior parte
das escolas tem condições de trabalhar em conjunto com os pais e o médico que
trata da criança para encontrar soluções às dificuldades cotidianas.
Sem contar que uma
escola especial, ressalta Cleide, pode trazer estigmas e fazer com que a
criança comece a ser vista como diferente.
Identificação
Diferentemente de
muitas doenças neurológicas, o TDAH conta apenas com um questionário de 18
perguntas recomendado pela Associação Americana de Psiquiatria para ser
diagnosticado. Para saber se a criança tem TDAH é preciso que os pais fiquem
atentos aos seguintes pontos: se seu filho está atrapalhando a aula, se vai mal
na escola, se sempre desafia ou enfrenta mais velhos e autoridades, se é uma
criança difícil de lidar. Nos adultos, pode haver dificuldade de concentração
em palestras, aulas ou leitura, desatenção, relutância em iniciar tarefas que
exigem longo esforço mental, problemas com organização, planejamento ou mesmo
memória a curto prazo (marcada pela perda ou esquecimento de objetos, nomes,
prazos, datas). Além disso, pode vir associado a outras doenças como depressão,
transtorno de ansiedade ou distúrbio alimentar.
Uma vez confirmada a existência da doença, no entanto, é
importante recorrer a um tratamento multidisciplinar, assessorado por médicos,
psicoterapia, orientação aos pais e professores. Quando há necessidade do uso
de medicamento — em geral o metilfenidato, comercializado sob o nome de Ritalina —, este deve ser prescrito com
bastante critério. O medicamento, alerta Maria Aparecida, é cada vez mais
vendido no Brasil, que é atualmente é o
segundo maior consumidor do mundo, perdendo apenas para os
Estados Unidos:
— A ritalina age como a
anfetamina e a cocaína, aumentando a dopamina (neurotransmissor do prazer) nas
sinapses e diminuindo a sensibilidade.
Além disso, quando mal
administrado, o remédio pode causar alucinação, depressão, convulsão, insônia,
confusão mental, levar à perda de peso e atrapalhar o crescimento. A própria
bula do remédio indica que ele não deve ser utilizado em crianças menores de
seis anos.
O pediatra Dr. Cypel
ressalta que o medicamento é uma opção muito criteriosa e eventual, mas que não
isenta os pais de rever o processo de desenvolvimento e educação do filho.
— Os pais têm de
entender que não podem fazer todos os desejos da criança. Além disso, precisam
estimulá-las a conviver com frustrações e mostrar que elas têm tarefas, assim
como rotina e horários.
Mas atenção: tentar
impor uma lista de cobranças à criança pode apenas agravar a doença. Os pais,
de acordo com Cleide, devem aprender a não criticar sempre a criança por seus
erros e passar a ressaltar com mais frequência os acertos.
— Do contrário, a
criança perceberá que recebe muita atenção dos pais quando faz coisas
inadequadas, e isso fará seu comportamento ficar pior.
FONTE: http://noticias.r7.com/saude/tdah-saiba-identificar-se-seu-filho-sofre-dessa-doenca-23102012
Daata: 21/02/2013 às 17:07h