Resenha do livro :
"O Homem que
Calculava",
de Malba Tahan.
Tahan, M. O Homem que
Calculava. Rio de Janeiro, Record, 2010. 300 p. 79° ed.
O Homem que Calculava é a alcunha
atribuída ao protagonista deste romance infanto-juvenil, Beremiz Samir. Dotado
de uma impressionante habilidade matemática - e, porque não dizer, também
filosófica -, Beremiz mostra que a matemática apresenta-se de uma forma
bastante divertida e variada no cotidiano das pessoas, elucidando os mais
variados enigmas matemáticos – de simples cálculos a operações complexas e de
pura lógica.
O livro é uma narrativa de Hank
Tade-Maiá, personagem secundário que encontra porventura Beremiz no deserto, o
leva à Bagdá e o acompanha em sua estada por lá, relatando neste livro as
aventuras de seu amigo. Está dividido em trinta e quatro capítulos, com notas
de rodapé postas pelo autor e também dos editores explanando o significado de
determinadas expressões. Esta edição conta ainda com um glossário e um
apêndice.
Logo após encontrar Beremiz e
fascinar-se com seu talento matemático e convidá-lo a seguir viagem para Bagdá,
Hank e nosso protagonista encontram no caminho um grupo de irmãos que discutem
a partilha de uma herança de camelos. Beremiz elucida a divisão de 35 camelos
por três irmãos, o que causa admiração e gratidão no grupo.
Samir conta a história de sua vida.
Um pastor de ovelhas, humilde que até conhecer Nhô-Elin – seu mestre -,
ignorava os eruditos caminhos da matemática. De forma incrível, ele aprende
desde a história até as áreas mais complexas da matemática utilizando como
molde para seu aprendizado a própria natureza. Contando ovelhas, dia após dia,
e com instruções de seu mestre, foi desenvolvendo habilidade de calcular
qualquer montante a partir da observação e do emprego da lógica.
De pouco em pouco, passou a contar
além de rebanhos inteiros, o número de folhas que possui uma árvore, quer seja
em seu total ou por galhos. O número de pássaros que porventura voassem por sob
sua cabeça, o número de tâmaras ainda nos galhos das árvores, enfim, cálculos
homéricos, que a nós mostram-se tétricos, a Beremiz era entretenimento.
A redação do livro gira basicamente
em torno das proezas matemáticas do Homem que Calculava que resolve antigos
enigmas matemáticos e histórias, como, por exemplo, o surgimento do xadrez, o
“x” da vida, as pérolas do rajá etc. Tem por base os costumes e as tradições
árabes, os quais marcam o enredo do romance. Ao final, Beremiz acaba por
casar-se com Telassim, filha do vizir Maluf, a quem “conheceu” por ventura de
ensinar matemática.
O interessante deste livro, além do
romance bem arquitetado em torno de lendas, costumes árabes e problemas
matemáticos é a ligação que faz entre as ciências e a vida cotidiana. Com
explanações simples, Tahan deu vida a um brilhante protagonista que mostra que
a matemática apresenta-se trivialmente, resolvendo e criando problemas
matemáticos com uma facilidade que faz com que o leitor passe a ver a álgebra
como algo menos complexo do que de costume.
Percebe-se claramente que o objetivo
de Malba Tahan ao dar vida a Beremiz era o de mostrar não somente que a
matemática, como também, história, geografia, teologia e as demais áreas de
estudo encontram-se em cada coisa ao nosso redor. Que a divisão disciplinar
feita pelo mestre nas instituições de ensino existe somente ali, pois na natureza
elas apresentam-se mescladas, dependentes uma da outra. Evidencia assim o que é
tácito: o conhecimento é uma coisa só.
A escolha cultural do personagem não
se fez ao acaso, visto que, os árabes, assim como os indianos (citados algumas
vezes por Beremiz) possuem grande influência e contribuição na estruturação da
matemática, embora esta tenha em sua origem a contribuição de vários povos
antigos, como, por exemplo, os egípcios e os gregos.
Malba explora as mais diversas áreas
da matemática, convidando ao leitor tentar elucidar questões ali propostas ou
mesmo criar enigmas. Embora não tenha por objetivo ensinar lógica, esta é
presente constante na trama de forma sutil.
Esta é uma obra atemporal, com valor
pedagógico indiscutível, seja para a literatura brasileira ou para a
matemática, visto que, trabalha o raciocínio do leitor e ensino da matemática
através da ficção, trazendo curiosidades acerca da história e da ciência
matemática. Embora destinado a um público jovem, trata-se de uma obra que certamente
é aprazível a todos os públicos. Podendo ser assaz trabalhada em sala de aula
dependendo do objetivo pedagógico do mestre, indiferentemente da disciplina.
Malba Tahan é o pseudônimo do professor de matemática Júlio César de
Mello e Souza, autor de mais de quinze livros sobre os costumes e lendas do
povo árabe dentre outros, todos com valor pedagógico. Foi um dos maiores
divulgadores da matemática no Brasil. Nasceu no Rio de Janeiro em 06 de maio de
1895 e faleceu em Recife em 18 de junho de 1974. Graduou-se como engenheiro
civil na Escola Politécnica e como professor na Escola Normal. Dentre suas 120
obras, podemos citar: “A Estrela Dos Reis Magos”; “Matemática Divertida e
Delirante”; “A Arte de Ler e Contar Histórias” etc.
Farias, M. S. “Resenha do livro O Homem que Calculava.”.
Dezembro de 2011. www.livredialogo.blogspot.com
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