Resenha - A Menina que roubava livros
Markus Zusak encontrou um meio de escrever um romance ímpar que retrata
com muita lucidez os horrores do período Hitleriano, da própria Segunda Guerra
Mundial. Uma jovem durante o período da Alemanha nazista lutando intimamente
para defender seus princípios, por não se deixar manipular pelo tétrico ideal
de Hitler, ao passo que ela amadurece e aflora para o primeiro amor, um
sentimento platônico. Zusak ainda chama a atenção para algo muito importante: o
poder das palavras, a influência delas sobre o ser humano; o que elas
conseguiam – e ainda hoje o logram - levar as pessoas a crer e a fazer.
O livro é uma narrativa da Morte, seu foco é a vida de Liesel e o que a
ela for relacionado. Organiza-se em dez partes, cada qual com cerca de quarenta
páginas, mais o prólogo onde a narradora apresenta a ela mesma e a nossa
protagonista e ainda um epílogo falando sobre a morte de Liesel e o destino de
alguns dos personagens secundários. Posteriormente há uma parte dedicada aos agradecimentos
do autor e um trecho falando sobre ele.
Nossa narradora mostra-se muito diferente do juízo que lhe fazemos. Em
partes do livro ela busca dialogar com o leitor, mostrando que apesar de não
ser humana, tem de certa forma sentimentos. Empós apresentar-se ela explica o
porquê de seu interesse em Liesel: “O que, por sua vez, me traz ao
assunto de que lhe estou falando [...]. É a história de um desses sobreviventes
perpétuos – uma especialista em ser deixada para trás.”. Ao final do
livro ela reafirma algo que deixa bem claro durante a história: “Os
seres humanos me assombram”...
“A menina que roubava livros” conta a história de uma menina de nome
Liesel Meminger que, durante uma viagem de trem com destino a cidade alemã de
Molching, ao despertar encontra o seu irmão que viajava a seu lado, morto. No
trajeto é feita uma parada para inumar o menino, e, é no cemitério onde nossa
protagonista faz o primeiro de seus roubos: um dos coveiros, incauto, deixa
cair à neve um livro intitulado “Manual do Coveiro”. Em chegando a cidade de
destino, Liesel descobre que seria entregue a uma família adotiva; reluta muito
em partir dos braços da mãe consanguínea, mas acaba cedendo. Nossa protagonista
passa a viver com Hans e Rosa Hubermann, sua nova parentela. A partir de então,
Liesel ao decorrer da história, recebe letramento, faz amizades e, passa a
roubar livros da biblioteca da mulher do prefeito, Ilsa Hermann (com certo
consentimento da proprietária). Ao lado de seu amigo Rudy, ela constrói uma
amizade solidária e uma cumplicidade nos furtos, além de um amor castiço e
terno...
Ao fim do livro, a cidade de Molching é bombardeada pelas forças Aliadas
e, não em tempo as sirenes de alerta foram acionadas. Foi uma chacina. Liesel
foi, quiçá, a única sobrevivente da Rua Himmel. Ela passara as noites no porão
da humilde casa de número 33, escrevendo em seu livro – um diário que lhe fora
presenteado por Ilsa Hermann alguns dias antes. Ora novamente órfã Liesel é
adotada por Ilsa Hermann e seu marido. Ilsa perdera o único filho alguns anos
antes - o rapaz lutava na guerra. Liesel Meminger cresce, vai morar em Sydney,
constitui família e morre em idade avançada.
Esta obra literária, devo admitir, aprazou a este que vos escreve. A
ideia de Markus Zusak ao grafar um romance cujo cenário é a Alemanha nazista,
retratando os horrores desse período, é deveras interessante. Uma jovem menina
que vê (assim qual uma minoria de outras pessoas alemãs) um absurdo nos ideais
de Hitler, mas, por coação, mantém a aparência de nazista, muito embora,
durante parte da história os Hubermann e Liesel abriguem secretamente um judeu
em seu porão.
O livro mostra o caos que foi a Alemanha nesse período: íncolas alemães
passando fome com o racionamento de víveres, o temor de ser considerado um
traidor ou mesmo de ser alvo de desconfianças por parte dos membros do partido
nazista, a coerção para que todos se alistassem a essa facção e, a perseguição
aos que se negavam. O fanatismo de maioria dos alemães, o nacionalismo
exagerado, a arrogância... A perseguição aos judeus e a quem não fosse
etnicamente alemão. O sofrimento das famílias – não só judias, mas inclusive
alemãs como também russas e outras tantas - que perdiam seus parentes nas
batalhas; das mães que perderam seus filhos ainda pequenos por conta dos
bombardeios; pessoas que foram mutiladas pelo conflito... Atrocidades tamanhas
que expõem o lado mãos sombrio, perverso e dantesco da natureza humana, capaz
de apavorar até mesmo a singular narradora (“os seres humanos me assombram”).
A estruturação desse livro é um pouco diferente do que as dos títulos
que já li. A principio foi curioso, até mesmo um pouco “estranho”, mas ao
decorrer do livro torna-se conveniente e agradável.
Esta obra possui sem dúvida valor pedagógico; como sempre indigitando o
mérito da Literatura qual instrumento de granjear conhecimentos vários.
Trata-se de um texto mais indicado, talvez, a alunos a partir do segundo ano do
Ensino Médio, dada a qualidade do escrito.
Markus Frank Zusak nasceu em Sydney em 23 de junho de 1975, é famoso
pelo seu Best-seller internacional “A menina que roubava livros”, também é
autor de “Fighting Ruben Wolf”, “Getting the Girl”, “Eu sou o mensageiro”,
dentre outros, todos recebidos com críticas resplandecentes às revistas
Publishers Weekly, School Library Journal, KLIATT, The Bulletin e Booklist.
Recebeu o Prêmio Livro do Ano para Leitores Mais Velhos, concedido pelo
Conselho Australiano de Livros Infantis.
Farias, M.S. "Resenha de 'A menina que roubava livros', de
Markus Zusak". Junho de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Zusak, M. A menina que roubava livros. Rio de Janeiro, Intrínseca, 2008. 382 p. -- ed.
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